Governança ou Ágil: quais as diferenças e semelhanças?

Adriano Martins Antonio
6 min readDec 23, 2022

Introdução

Temos visto embate entre o movimento relacionado aos defensores dos princípios da governança, através de bibliotecas como o Cobit 2019, CMMI, Normas ISO, ITIL, entre outros, e aqueles que defendem uma abordagem através dos métodos ágeis para as organizações, pensamento que se embasa em fundamentos do Scrum, Lean, Kanban etc.

A governança está mais ligada a controles e tomada de decisão. O ágil, à flexibilidade.

Aqueles que defendem os métodos ágeis argumentam que a governança pode engessar a organização. Já os partidários da governança vêem o oposto: os processos como libertação, sem os quais a desorganização e os riscos serão elevados.

Mas será que o ágil e a governança são realmente opostos? Hoje, nosso objetivo é investigar essa relação, seus pontos de congruência e suas distinções.

As características do Ágil

Para analisar a situação, vamos começar listando os pontos principais do movimento ágil:

  1. Foco no desempenho
  2. Uso de métricas, KPIs, OKR, indicadores etc.
  3. Evitar desperdícios.
  4. Aderir a um framework e modelo de trabalho.
  5. Aumentar a visibilidade.
  6. Transparência é a alma do negócio.
  7. Resolver os problemas de maneira rápida.
  8. Foco em entregas ágeis e que gerem valor.
  9. Controle do prazo.
  10. Foco na priorização.
  11. Preferência por profissionais com papéis ao invés de cargos.
  12. Dependência de feedback contínuo.
  13. Preferência por uma metodologia de trabalho.
  14. Foco em otimizar e automatizar.
  15. Foco na eficiência e na visão dos resultados.
  16. Foco na entrega de resultados.
  17. Frequente tomada de decisões.
  18. Gestão à vista.
  19. Autonomia e empoderamento.
  20. Provocam a sinergia e colaboração.
  21. Monitoramento.
  22. Atenção à Transformação Digital.
  23. Preocupação com as pessoas.
  24. Criação de valor.
  25. Trabalho desempenhado em fases.
  26. “Gestão é a alma do negócio”.
  27. Uso de ferramentas de gestão e controles.
  28. Objetividade através do uso de gráficos.

E na governança?

Agora, vamos analisar cada uma dessas características listadas. Como a governança vê cada um desses itens:

  • Foco no desempenho e uso de métricas, KPIs, OKR, indicadores etc

Não há como monitorar a governança sem monitoração de desempenho. Se a governança dita o direcionamento, o foco no desempenho é crucial para monitorar se estamos seguindo, de fato, o direcionamento apontado. E, para que isso seja feito, devemos analisar os indicadores, métricas, OKRs etc.

  • Evitar desperdícios

Alguns dos benefícios da governança são, justamente, a otimização dos recursos e a redução dos desperdícios.

  • Aderir a um framework e modelo de trabalho

Cobit, CMMI, Normas, ITIL e outras bibliotecas são frequentemente usados para governança.

  • Aumentar a visibilidade e transparência

Transparência é, também, fundamental para a governança. Uma empresa que vai abrir o capital na bolsa, por exemplo, precisa aplicar governança para garantir a transparência dos dados financeiros para os investidores.

  • Resolver os problemas de maneira rápida

Governança não é feita para deixar a empresa lenta, e sim para construir processos efetivos que facilitam a resolução dos problemas sem que se tenha que “inventar” uma prática “do zero” a cada nova situação. O gerenciamento de crise é um grande exemplo disso.

  • Foco em entregas ágeis e que gerem valor

O foco da governança também é entregar valor para as partes interessadas através da redução do desperdício.

  • Controle do prazo

Relatórios, compliance, auditorias e vários outros focos da governança dependem fundamentalmente do controle do prazo.

  • Foco na priorização

O foco na priorização se reflete em todos os processos da governança.

  • Preferência por profissionais com papéis ao invés de cargos

Não existe, por exemplo, uma equipe de gerenciamento de incidentes ou um gerente de mudanças como cargo. Isso é assumido, dentro da governança, como um papel, com o objetivo de otimizar recursos.

  • Dependência de feedback contínuo

Compreender o que os investidores, o mercado e as partes interessadas em geral estão achando da organização é parte fundamental da governança.

  • Preferência por uma metodologia de trabalho

Também uma parte essencial da governança, representada por suas práticas e processos.

  • Foco em otimizar e automatizar

Dois dos grandes focos do Cobit, por exemplo, são a otimização de riscos e a otimização de recursos. A automatização dos processos também não é colocada de lado pela governança.

  • Foco na eficiência e na visão dos resultados

As decisões são tomadas com embasamento no dashboard, ou seja, nos indicadores, métricas e números.

  • Foco na entrega de resultados

Isso está diretamente relacionado às partes interessadas na organização, elemento indispensável para o pensamento da governança.

  • Frequente tomada de decisões

Na governança isso também é verdade. Além disso, há uma hierarquia de tomada de decisões que as divide em três camadas: estratégica, tática e operacional.

  • Gestão à vista

Todos devem entender o direcionamento da governança pois a organização, como um todo, deve estar interligada. Se ocorrer uma falha em uma ponta, a outra ponta será afetada.

  • Autonomia e empoderamento

A governança visa treinar e capacitar as pessoas para que elas possam tomar decisões dentro do seu nível de expertise. A matriz RACI é um exemplo frequente dessa característica.

  • Provocam a sinergia e colaboração

Pois tudo o que é entregue por uma organização está intimamente ligado às partes interessadas e fornecedores, por exemplo.

  • Monitoramento

O monitoramento é novamente uma característica intrínseca ao dashboard.

  • Atenção à Transformação Digital

Apesar de não ser uma regra para todas as empresas, a concorrência e as rápidas mudanças trazidas pela transformação digital tendem a forçar as organizações a se enquadrar nas novas expectativas e formas de trabalho.

  • Preocupação com as pessoas

Trata-se de uma das responsabilidades sociais de qualquer organização.

  • Criação de valor

Governança trata de criar valor para as partes interessadas.

  • Trabalho desempenhado em fases

Também, na governança, há divisão de fases para tudo.

  • “Gestão é a alma do negócio”

Aqui, governança e gestão são a alma do negócio.

  • Uso de ferramentas de gestão e controles

Mais um aspecto essencial da governança.

  • Objetividade através do uso de gráficos

A governança é objetiva, pois o valor dos gráficos e métricas está na entrega de resultados.

Então o que difere entre ágil e governança?

Percebe-se, portanto, que as características principais da governança e do ágil são as mesmas.

Analisaremos, agora, os itens que diferem de uma abordagem para a outra:

  • Forma de entrega

Na governança: no projeto tradicional, divide-se o projeto em fase de planejamento, execução e entrega.

No ágil: a entrega é feita de forma iterativa, em que as fases de planejamento, execução e entrega são feitas múltiplas vezes ao longo do processo.

No entanto, qualquer um dos métodos podem ser adaptados dentro de suas abordagens.

  • O apetite ao risco

Na governança: em modelos mais tradicionais, muitas vezes prefere-se evitar os riscos quando isso é possível.

No ágil: a cultura de testes e de início rápido é mais intensa. Lida-se, todo o tempo, com a possibilidade e a realidade de tentativas fracassadas.

  • Experimentação vs. planejamento detalhado

Na governança: novamente, essa característica está associada ao alto risco atrelado às experimentações, principalmente em organizações grandes e consolidadas.

No ágil: a experimentação, o “errar rápido e aprender rápido” é o lema no Ágil.

  • A cultura da empresa

A implementação do ágil, em muitos casos, demanda uma transformação total da cultura de uma empresa, o que não é sempre possível ou, simplesmente, não é a intenção da organização.

  • O tipo de produto ou serviço que é vendido

O tipo de produto ou serviço de uma empresa influencia muito nas formas de trabalho e organização do trabalho. Um banco digital, por exemplo, está em uma posição muito mais favorável à aplicação do ágil do que uma fabricante de aço.

  • O volume de documentos

Em empresas que exigem mais documentação para estar em conformidade com as leis, por exemplo, o ágil pode trazer mais riscos.

Conclusão

Para finalizar, pense sobre as seguintes questões, cujo objetivo é causar a reflexão sobre a importância da governança para todas as organizações.

Você acha mesmo que:

  • Investidores colocariam dinheiro em uma startup sem gestão ou direcionamento?
  • Investidores colocariam dinheiro em uma empresa de inovação que são desorganizadas?
  • Os reguladores irão pegar mais leve com uma empresa só porque ela tem uma pegada ágil?
  • As leis serão menos severas para empresas ágeis do que para empresas que têm governança?

Não tem desculpa para não implementar governança! Pois:

  • Os processos libertam e trazem agilidade.
  • Nada impede que usem-se princípios ágeis para a aplicação da governança.
  • Nada impede que implemente-se, até mesmo, uma governança ágil, pois os princípios são os mesmos.
  • Chame do que quiser, mas a tomada de decisão é baseada em informações. E se tem informação, tem Governança.
  • O COBIT mudou, a ITIL mudou, os Objetivos mudaram, o mundo mudou!

Esse assunto foi tema da Live#004 que fiz no meu canal do Youtube. Deixo o link abaixo caso você queira assistir!

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Adriano Martins Antonio

CEO & Fundador da PMG Academy | MBA-FGV | Pós-Graduado Neurociência Educacional | Consultor de TI | Design Instrucional na https://adrianomartinsantonio.com.br